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Vencendo a procrastinação nos estudos

No ambiente educacional de hoje, poucos fenômenos são tão onipresentes e, ao mesmo tempo, tão mal compreendidos quanto a procrastinação. Frequentemente rotulada pelo senso comum como preguiça ou simples falta de organização, a procrastinação acadêmica revela-se, sob a ótica científica, um mecanismo muito mais complexo.

procrastinação

A literatura especializada define este comportamento como o adiamento voluntário, irracional e recorrente de tarefas acadêmicas, realizado mesmo quando o indivíduo tem plena consciência das consequências negativas que esse atraso acarretará, conforme estabelecido nos estudos seminais de Steel (2007).


É fundamental compreender que esse adiamento não ocorre por incapacidade intelectual ou falta de desejo de realizar a tarefa. Pesquisas recentes, como as conduzidas por Faria, Rossow e Neto (2025), indicam que a procrastinação está intrinsecamente ligada a déficits na regulação emocional e a falhas em habilidades metacognitivas. Em outras palavras, o estudante adia o estudo não porque não sabe gerenciar seu tempo, mas porque encontra dificuldades em gerenciar as emoções aversivas (como tédio, ansiedade e medo do fracasso) que a tarefa evoca.


Trata-se, portanto, de um comportamento autorregulatório disfuncional, onde a busca pelo alívio imediato do desconforto se sobrepõe aos objetivos de longo prazo.


Ao aprofundar a análise sobre as causas desse comportamento, observa-se que a procrastinação tem causa em vários fatores. Ela surge da interação entre aspectos cognitivos, emocionais e ambientais.


Cognitivamente, o perfeccionismo desempenha um papel paradoxal: o desejo de realizar um trabalho impecável gera uma paralisia, onde o medo de não atingir padrões elevados impede o início da ação. Simultaneamente, crenças de baixa autoeficácia fazem com que o aluno subestime sua capacidade de resolver problemas, aumentando a resistência à tarefa.


Esse cenário é agravado pelo que a psicologia chama de "viés do presente". O cérebro humano tende a valorizar recompensas imediatas desproporcionalmente em relação às recompensas futuras. Venâncio (2024) destaca que estudantes frequentemente caem na armadilha de acreditar que terão mais energia ou clareza mental no futuro para realizar a tarefa, uma expectativa que raramente se concretiza. Essa ilusão de que o "eu do futuro" será mais competente do que o "eu do presente" perpetua o ciclo de adiamento.


Além dos fatores internos, o contexto exerce uma influência determinante. Plado e Michels (2021) argumentam que a procrastinação é intensificada em ambientes de alta exigência emocional combinados com baixa estrutura organizacional. A falta de diretrizes claras e a presença constante de distrações digitais criam um terreno fértil para a dispersão. Quando a tarefa é ambígua e o ambiente oferece fugas fáceis, a tendência natural do cérebro é optar pelo caminho de menor resistência cognitiva.


As consequências desse padrão comportamental vão muito além de uma noite mal dormida antes de uma prova. A procrastinação crônica cobra um preço alto tanto no desempenho acadêmico quanto na saúde mental.


Estudos de Costa, Reis e Lima (2022) identificam a procrastinação como um dos principais fatores de risco para o rendimento abaixo da média, especialmente em cursos que demandam alta carga cognitiva. O acúmulo de tarefas gera picos de estresse que prejudicam a consolidação da memória e a capacidade de aprendizagem profunda. Mais alarmante é a associação direta com o aumento de sintomas de ansiedade, depressão e baixa autoestima, criando um ciclo vicioso onde o estudante se sente cada vez menos capaz, levando, em casos extremos, ao abandono de cursos e à evasão escolar.


Diante de um quadro tão difícil, a superação da procrastinação exige intervenções que vão além da simples "força de vontade". A literatura aponta para a eficácia de estratégias estruturadas que modificam tanto a percepção da tarefa quanto o ambiente de estudo. Uma das abordagens mais recomendadas é o planejamento através de microtarefas.


Conforme discute Paz (2022), dividir grandes projetos em pequenas ações concretas reduz a ansiedade e a sensação de que a tarefa é intransponível. Ao focar em apenas um pequeno passo, a barreira inicial é diminuída, facilitando o engajamento.


Paralelamente, o uso de técnicas de autorregulação temporal, como o método Pomodoro, ajuda a manter a constância, oferecendo intervalos regulares que funcionam como recompensas. No entanto, para casos onde a procrastinação está enraizada em questões emocionais mais profundas, intervenções psicológicas se mostram necessárias.


Yuhara (2025) aponta a eficácia de workshops baseados na Terapia Comportamental Dialética (DBT) e Mindfulness, que ensinam o estudante a tolerar o desconforto emocional sem reagir a ele com a evitação. Aprender a observar a ansiedade sem se deixar dominar por ela é uma habilidade crucial para a vida acadêmica.


A pedagogia tem contribuido com novas ferramentas para este problema, como a gamificação. Pereira e Classe (2025) demonstram que a aplicação de elementos de jogos no contexto de estudos (como metas claras, feedback imediato e sistemas de recompensa) pode aumentar significativamente a motivação.


Ao transformar o estudo em uma atividade que gera reforço positivo imediato, a gamificação contrapõe o viés do presente, tornando o processo de aprendizagem mais engajador.



Referências

COSTA, H. S.; REIS, H. L.; LIMA, V. L. M. C. Eficácia de intervenções não medicamentosas em procrastinação acadêmica: Revisão integrativa. Mosaico: Estudos em Psicologia, Educação e Cultura, v. 13, n. 1, 2022. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/mosaico/article/view/33957. Acesso em: 8 dez. 2025.

FARIA, L. H. L.; ROSSOW, A. B.; NETO, G. G. Procrastinação e desempenho acadêmico: uma revisão sistemática de literatura. Revista de Gestão e Secretariado, 2025. Disponível em: https://ojs.revistagesec.org.br/secretariado/article/view/4619. Acesso em: 8 dez. 2025.

MACHADO, B. A. B.; SCHWARTZ, S. Procrastinação e aprendizagem acadêmica. Revista Eletrônica Científica da UERGS, v. 4, n. 2, 2018. Disponível em: https://www.academia.edu/download/71007788/282.pdf. Acesso em: 8 dez. 2025.

PAZ, G. B. G. Procrastinação: prevalência, causa e intervenção. 2022. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2022. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/255116. Acesso em: 8 dez. 2025.

PEREIRA, M. B.; CLASSE, T. M. de. Proposta de framework de intervenção gamificada para o combate à procrastinação. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO, 2025. Anais... Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Computação, 2025. Disponível em: https://sol.sbc.org.br/index.php/sbsi_estendido/article/view/34612. Acesso em: 8 dez. 2025.

PLADO, L. M. do; MICHELS, M. de S. Os aspectos cognitivos e ambientais que influenciam a procrastinação acadêmica de estudantes de psicologia. Revista Humanidades & Inovação, v. 8, n. 1, 2021. Disponível em: https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/3577. Acesso em: 8 dez. 2025.

STEEL, P. The nature of procrastination: A meta-analytic and theoretical review of quintessential self-regulatory failure. Psychological Bulletin, v. 133, n. 1, p. 65–94, 2007.

VENÂNCIO, V. R. S. Deixando para depois: a procrastinação e aprendizagem em acadêmicos do curso de psicopedagogia. 2024. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2024. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/35053. Acesso em: 8 dez. 2025.

YUHARA, M. L. R. Workshop baseado na terapia comportamental dialética (DBT) para procrastinação acadêmica. 2025. Dissertação (Mestrado Profissional) – Instituto Par, São Paulo, 2025. Disponível em: https://mestrado.institutopar.org/wp-content/uploads/sites/2/2025/10/Marcela-Lamastra-Rocha-Yuhara.pdf. Acesso em: 8 dez. 2025.

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