A dependência do Ceará e o tarifaço de Trump
- Prof. Thiago Holanda
- 26 de jul.
- 2 min de leitura
O Ceará tem se tornado, nos últimos anos, como um dos principais polos exportadores do Nordeste brasileiro, com destaque especial para sua pauta industrializada, especialmente no setor siderúrgico.

Segundo dados do Comexstat/MDIC de 2024 (imagem abaixo), o Estado lidera nacionalmente em participação das exportações direcionadas aos Estados Unidos, com 45% do total de suas vendas externas destinadas àquele país. Este dado coloca o Ceará em posição de destaque, mas também o torna extremamente vulnerável a mudanças abruptas na política comercial dos Estados Unidos — como o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros anunciado pelo governo Trump com vigência prevista para 01 de agosto de 2025.

A pauta de exportações cearense é fortemente concentrada em produtos de ferro e aço, que respondem por 37% do total vendido aos EUA. Essa especialização está ligada ao funcionamento da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Pecém e do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, estruturado para atender a mercados externos com foco em bens de maior valor agregado.
A decisão do governo norte-americano, portanto, ameaça diretamente um dos fundamentos da economia cearense, uma vez que tarifas de 50% tendem a reduzir a competitividade dos produtos locais no principal destino de exportação do Estado.
O tarifaço pode resultar em uma queda geral de até 11% nas exportações brasileiras de aço, segundo alguns especialistas. No caso do Ceará, onde a dependência é muito superior à média nacional, o impacto pode ser ainda mais intenso, gerando efeitos negativos em série.
Entre os principais efeitos esperados estão: queda do faturamento com exportações, paralisação de linhas produtivas voltadas exclusivamente ao mercado externo, demissões no setor industrial e redução da arrecadação tributária estadual. Tais repercussões comprometem não apenas o desempenho econômico, mas também o equilíbrio fiscal e social do Estado.
Além dos impactos diretos, o tarifaço pode gerar desdobramentos indiretos importantes. Empresas podem buscar novos mercados internacionais para escoar sua produção, como União Europeia, países asiáticos e América Latina. Contudo, essa estratégia exige investimentos em adequação técnica, logística e diplomática, o que nem sempre está ao alcance imediato das empresas locais, sobretudo as de médio porte. A ausência de acordos bilaterais de livre comércio com mercados estratégicos também limita a margem de manobra do Brasil nesse cenário.
Diante desse contexto, a diversificação da pauta exportadora, com maior inserção de bens da indústria de transformação, alimentos processados, energias renováveis e tecnologias verdes, pode reduzir a exposição a riscos externos. Além disso, fortalecer a infraestrutura logística, promover a inovação industrial e incentivar uma diplomacia comercial mais ativa são caminhos para amortecer os efeitos negativos das novas tarifas.
Esse episódio destaca um dilema recorrente nas economias regionais fortemente especializadas: a necessidade de equilibrar ganhos de competitividade com a resiliência estrutural. O tarifaço de Trump, mais do que uma barreira econômica, é um alerta geopolítico sobre a importância de reduzir vulnerabilidades e construir uma economia estadual mais robusta, sustentável e globalmente integrada.
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